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Fernando Fuertes | 24/06/2025
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Um estudo de 2023 da Market Research Future revelou que os cabos sintéticos já representavam mais de 55% da receita global do mercado de cabos de amarração
O aumento do uso de cabos sintéticos em operações de carga tem remodelado discussões técnicas nos setores offshore, logístico e industrial. O que antes era um domínio absoluto do aço começa a dividir espaço com materiais ultraleves, como o polietileno de alto módulo (HMPE). Isso tem sido impulsionado por avanços em engenharia de fibras, novas exigências operacionais e uma busca constante por eficiência. A escalada desses cabos reflete mudanças reais nas formas de içar, amarrar e movimentar cargas em ambientes cada vez mais complexos, e levanta uma questão inevitável para o setor: até que ponto os sintéticos substituem o aço, e onde ele ainda é insubstituível?
Segundo projeções da Global Growth Insights, o mercado global de cabos HMPE foi avaliado em US$ 323,7 milhões em 2024, com previsão de atingir US$ 354,5 milhões em 2025 e US$ 732,6 milhões até 2033. A taxa de crescimento anual composta (CAGR) projetada para o período entre 2025 e 2033 é de 9,5%, reflexo direto da busca por soluções mais leves, seguras e eficientes em setores como offshore, mineração, logística e portos.
Um estudo de 2023 da Market Research Future revelou que os cabos sintéticos já representavam mais de 55% da receita global do mercado de cabos de amarração, especialmente em plataformas e embarcações que operam em águas profundas. Isso é resultado da leveza e resistência das fibras sintéticas, que têm transformado operações de alta complexidade, facilitando manobras, reduzindo esforço operacional e minimizando o risco de acidentes.
Os benefícios das cordas sintéticas são expressivos. Um cabo HMPE pode ser até 90% mais leve que seu equivalente em aço, mantendo carga de ruptura semelhante. Isso reduz o esforço físico das equipes, melhora a ergonomia, facilita o transporte e eleva a eficiência energética das operações.
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Outro ponto favorável é a resistência à água salgada e diferentes agentes químicos, o que torna o HMPE uma opção atraente para ambientes marinhos e regiões com alta umidade. Diferentemente do aço, que exige reaplicação constante de graxa ou revestimentos anticorrosivos, os cabos sintéticos demandam manutenção mais simples, o que representa uma vantagem operacional relevante, sobretudo em locais de difícil acesso.
Apesar de suas vantagens, o HMPE tem limitações técnicas que precisam ser consideradas com critério. A fluência — deformação gradual sob carga constante — pode comprometer o desempenho em operações de longa duração com peso estático elevado. Além disso, os cabos sintéticos não devem ser submetidos a temperaturas acima de 70 °C por períodos prolongados, o que restringe seu uso em ambientes industriais de alta temperatura ou em contato com componentes metálicos superaquecidos.
É nesse cenário que o aço segue imbatível. Seu comportamento previsível, a elevada resistência térmica e a capacidade de suportar abrasão intensa o tornam indispensável em operações como içamento em fundições, frenagens por atrito, manuseio de peças cortantes ou sob calor extremo. Guindastes industriais de grande porte, por exemplo, ainda dependem da robustez e rigidez dos cabos de aço para garantir segurança e durabilidade.
Outro fator decisivo é o custo total ao longo do ciclo de vida. Embora o HMPE possa ser mais vantajoso em aplicações de alta rotatividade ou onde a redução de peso resulta em economia de combustível, o investimento inicial ainda é significativamente mais alto do que o dos cabos de aço convencionais. Em cenários com menor frequência de troca ou exigência estrutural elevada, o aço costuma apresentar melhor desempenho técnico e econômico.
A perspectiva que se consolida no setor é a de uma convivência estratégica entre os dois materiais. Em vez de uma substituição absoluta, o que se observa é uma segmentação inteligente das aplicações. Em sistemas de ancoragem offshore, as chamadas linhas longas — que podem ultrapassar mil metros de extensão —, já é possível projetar trechos de aço nas regiões de maior atrito, como curvas de desvio e bases metálicas, enquanto o HMPE pode ser aplicado nos segmentos suspensos ou mais difíceis de acessar. Essa configuração híbrida permite combinar a robustez do aço com a leveza e durabilidade dos sintéticos, otimizando o desempenho geral da linha.
Para este uso híbrido ou em qualquer cenário de substituição de um pelo outro, é essencial que a escolha entre aço e HMPE leve em consideração uma análise técnica detalhada das condições de operação. Temperatura, abrasividade, tipo de carga, frequência de uso, ambiente externo e capacidade de manutenção são fatores que impactam diretamente o desempenho e a vida útil dos cabos. Além disso, a capacitação das equipes segue sendo um fator essencial. Diferentes materiais exigem critérios de inspeção próprios, técnicas específicas de emenda ou trancagem dos olhais e conhecimento sobre sinais de fadiga.
A inovação trazida pelos cabos sintéticos é inegável. Mas o protagonismo do aço, com sua confiabilidade comprovada em milhares de aplicações críticas, permanece firme. O mais importante é entender que a escolha entre aço e sintético não é binária, mas estratégica, pois a técnica precisa ser sempre baseada em dados, contexto e, sobretudo, segurança.
*Imagem de capa: Depositphotos.com
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